Além de crescer, a prática do resseguro se diversifica para atender às novas necessidades
Nenhuma novidade: o resseguro é uma prática comum e amplamente conhecida no mercado securitário. Popularmente cunhada de “o seguro da seguradora”, ela consiste basicamente na contratação de um seguro para cobertura parcial do risco que uma empresa seguradora assume perante apólices que envolvam grandes somas.
O que acontece, entretanto, é que essa prática, antes mais difusa, hoje é reconhecida como uma estratégia de negócio para as seguradoras. Com o aumento de desastres ambientais no Brasil, amplamente evidenciado pela enchente que assolou o Rio Grande do Sul, as empresas ligaram o sinal amarelo para carteiras que envolvem perdas massivas e alta descapitalização.
De acordo com dados divulgados pela Confederação das Seguradoras (CNseg), as consequências financeiras para as companhias, devido à enchente histórica, são estimadas em R$ 4 bilhões, sendo R$ 1,3 bilhão apenas no setor de automóveis.
O aumento das contratações na área de resseguro já era evidente nos números, mesmo antes das recentes catástrofes. Dados da plataforma IRB+Inteligência indicam que o montante de prêmios recebidos pelas resseguradoras ultrapassou R$ 25 bilhões em 2023, um aumento de quase 9% perante o ano anterior. Ainda em janeiro de 2024, foram quase R$ 3 bilhões em contratações de resseguro, demonstrando uma alta de 3,6% referente ao mesmo mês no ano anterior, e o maior valor já registrado na modalidade.
Além das tragédias naturais, o mercado de resseguros enfrenta novos desafios, como os seguros cibernéticos, que expõem as empresas a riscos imprevisíveis e perdas financeiras significativas. Segundo o Índice Global de Proteção de Dados (GDPI), seis em cada dez empresas brasileiras enfrentaram ataques cibernéticos em 2023. Nesse período, o setor securitário desembolsou R$ 18,2 milhões em indenizações às empresas seguradas. Devido à maior penetração desse tipo de seguro e a escalada dos riscos digitais, espera-se que esses custos continuem a subir.
Por outro lado, a alta dos sinistros impacta diretamente o custo do resseguro, resultando em preços mais elevados devido aos riscos adicionais. O resseguro é calculado de forma personalizada, levando em conta as condições específicas de cada apólice segurada e os fatores de preocupação que levaram a companhia seguradora a buscar essa cobertura adicional.
Por essas razões que o mercado de resseguro se encontra numa fase de remodelação de carteira. A área que antes era muito mais direcionada às coberturas perante riscos no setor rural (ainda bastante significativos), vê sua demanda crescer e se complexificar perante novos avanços tecnológicos e também com o aumento de riscos, seja em mercados voláteis ou por questões climáticas.
Por Gaya Schneider, sócia do escritório Ernesto Borges Advogados e presidente da Comissão Especial de Direito Securitário da OAB Nacional
Autor: Gaya Lehn Schneider Paulino • email: gaya@ernestoborges.com.br • Tel.: +55 67 3389 0123