A La Liga é a primeira divisão do campeonato espanhol, sendo um dos campeonatos mais importantes, televisionados e rentáveis do mundo. Um relatório elaborado recentemente mostrou que a liga gera 185 mil empregos e um negócio que equivale a 1.37% do PIB espanhol, tendo faturado 857.5 milhões de euros e sido patrocinada por 800 empresas.

Paralelamente ao fortalecimento financeiro de La Liga, incrementou-se a rentabilidade dos clubes, pelas rivalidades históricas fomentadas, pelo público pagante e produtos licenciados, pelos patrocínios mundiais e pelos recursos pagos pelos direitos de transmissão.

A La Liga, que já foi de vários craques, hoje é de Vini Jr, mas também é a liga das manifestações racistas que reiteradamente tem por alvo o menino carioca. Há tempos temos notícias de atos racistas por torcedores contra Vini Jr, com o objetivo de diminuí-lo. Torcedores entoam gritos de macaco, imitam urros do animal e penduram bonecos negros enforcados nas imediações dos estádios.

Uma carga de humilhação pesada para um rapaz que não conta com apoio de quem deveria lhe defender, mas que tem protagonizado no combate ao racismo.

A grandeza financeira de La Liga é inversamente proporcional à postura medrosa com que tem enfrentado o problema. A tímida repulsa, externada em protocolares notas de repúdio e subidas de hashtags, não ameniza a dor dos ofendidos e não pune os ofensores.

Como grande corporação, a conduta de La Liga nos episódios é um case a ser estudado pelas empresas que levam a sério a efetiva incorporação da Agenda ESG. O enfrentamento frágil, representado pelo indesculpável “faz de conta que se importa”, escancara uma propaganda enganosa de antirracismo, similar à prática do greenwashing. La Liga não percebeu que o mundo não admite um enfrentamento acanhado.

Em meio a um cenário de preocupação com questões sociais e busca por práticas de negócios mais atraentes, a Agenda ESG ganhou destaque como uma abordagem que o sucesso de imagem e financeiro das empresas, mas também seu impacto social, mas para que essa agenda seja eficaz, é fundamental reconhecer que a igualdade e a inclusão são componentes cruciais a serem considerados.

O pilar social dessa Agenda se concentra em temas como diversidade, inclusão e direitos humanos, sendo aí que o antirracismo encontra espaço para ser efetivo e abrangente.

Embora tenhamos avançado, ainda existem barreiras que impedem que pessoas de diferentes raças tenham as mesmas oportunidades e sejam tratadas com equidade. É aí que a Agenda ESG exerce papel fundamental, promovendo mudanças no âmbito empresarial.

O combate ao racismo nas empresas é imperativo moral e vantagem competitiva, além de servir de instrumento de transformação e conscientização sociais, pela promoção da diversidade e da igualdade, essenciais para construir um ambiente empresarial mais justo e equilibrado com os valores de uma sociedade plural, o a La Liga ainda não compreendeu.

Assim, não se duvide que é possível estabelecer conexões entre a Agenda ESG e o combate ao racismo, destacando como os princípios da Agenda a inclusão social, a diversidade e a equidade, conforme os critérios ESG que estão ligados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pelo Pacto Global.

Diferentemente do que vem deixando de fazer a La Liga, em momentos como esse práticas de proteção individual devem se aprimorar, políticas de inclusão e estratégias devem ser implementadas, tudo para a construção de um futuro mais equitativo.

Ao não perceber a necessidade de um enfrentamento corajoso, ao permitir que sua leniência provoque um incidente diplomático, ao se tornar exemplo de tolerância tóxica, a La Liga põe em risco sua imagem, solidez financeira, credibilidade e atratividade como produto, o que se confirma pelas manifestações em que patrocinadores são criticados, assim como campanhas dos próprios patrocinadores da liga, manifestando solidariedade ao jogador.

Não à toa o termo ESG foi cunhado em 2004, em publicação do Pacto Global e do Banco Mundial, chamada Who Cares Wins (Quem Cuida Ganha). Fica o recado a quem ainda se questiona se a Agenda ESG é mesmo importante ou não: Quem cuida ganha, que não cuida perde!

 

Disponível em: https://valor.globo.com/brasil/esg/artigo/o-caso-vinicius-junior-a-complacencia-de-la-liga-e-a-agenda-esg.ghtml

Autor: Mauricio Aude • email: mauricio.aude@ernetoborges.com.br • Tel.: + 5565 99981 0853

O CASO VINICIUS JUNIOR, A COMPLACÊNCIA DE LA LIGA E A AGENDA ESG

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